Canina

€ 13,90

Andreia C. Faria

Caninos são os dentes, canina a fidelidade, ou a ferocidade, o ladrar e o morder, e conhecemos o cão negro da melancolia, o cão danado, o cão de guarda e o de companhia. Mas além dos cães, estes e outros, Canina convoca os mais diversos bichos (cavalos, gatos, pavões), sem que se confunda com qualquer cântico das criaturas. Em vez de humanizar os animais, animaliza os humanos, não fazendo disso virtude nem defeito. Podemos pensar em exemplos pictóricos como as mulheres‑cão de Paula Rego, ou, no campo poético, em algumas imagens extremas de Alejandra Pizarnik, ou de Luís Miguel Nava, o corpo como coisa física, instintos, fúrias, ossos, nervos, sangue, matéria que, por estranho que pareça, não se opõe aqui a deus, vocábulo sempre grafado em minúscula. Nenhuma metafísica, no entanto; o objecto de Canina é a condição humana, o que há de animal nessa condição, e talvez o que há de mítico. «Depois da extinção seremos fábula», escreve Andreia C. Faria, mas na verdade já somos, no amor como na doença, na glória como na vida de cão. — Pedro Mexia

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Andreia C. Faria

Caninos são os dentes, canina a fidelidade, ou a ferocidade, o ladrar e o morder, e conhecemos o cão negro da melancolia, o cão danado, o cão de guarda e o de companhia. Mas além dos cães, estes e outros, Canina convoca os mais diversos bichos (cavalos, gatos, pavões), sem que se confunda com qualquer cântico das criaturas. Em vez de humanizar os animais, animaliza os humanos, não fazendo disso virtude nem defeito. Podemos pensar em exemplos pictóricos como as mulheres‑cão de Paula Rego, ou, no campo poético, em algumas imagens extremas de Alejandra Pizarnik, ou de Luís Miguel Nava, o corpo como coisa física, instintos, fúrias, ossos, nervos, sangue, matéria que, por estranho que pareça, não se opõe aqui a deus, vocábulo sempre grafado em minúscula. Nenhuma metafísica, no entanto; o objecto de Canina é a condição humana, o que há de animal nessa condição, e talvez o que há de mítico. «Depois da extinção seremos fábula», escreve Andreia C. Faria, mas na verdade já somos, no amor como na doença, na glória como na vida de cão. — Pedro Mexia

Andreia C. Faria

Caninos são os dentes, canina a fidelidade, ou a ferocidade, o ladrar e o morder, e conhecemos o cão negro da melancolia, o cão danado, o cão de guarda e o de companhia. Mas além dos cães, estes e outros, Canina convoca os mais diversos bichos (cavalos, gatos, pavões), sem que se confunda com qualquer cântico das criaturas. Em vez de humanizar os animais, animaliza os humanos, não fazendo disso virtude nem defeito. Podemos pensar em exemplos pictóricos como as mulheres‑cão de Paula Rego, ou, no campo poético, em algumas imagens extremas de Alejandra Pizarnik, ou de Luís Miguel Nava, o corpo como coisa física, instintos, fúrias, ossos, nervos, sangue, matéria que, por estranho que pareça, não se opõe aqui a deus, vocábulo sempre grafado em minúscula. Nenhuma metafísica, no entanto; o objecto de Canina é a condição humana, o que há de animal nessa condição, e talvez o que há de mítico. «Depois da extinção seremos fábula», escreve Andreia C. Faria, mas na verdade já somos, no amor como na doença, na glória como na vida de cão. — Pedro Mexia

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