Confissão
Cláudia Lucas Chéu
É o seu primeiro livro de poesia confessional. Trata-se de um livro autobiográfico com um único poema longo. Quando relê o que escreveu, a autora fica assombrada pela possibilidade de ter deixado o rabo à mostra nas páginas de Confissão.
++
Na casa onde vivíamos,
as paredes grossas estavam cobertas por uma película de bolor
e das inúmeras fendas saíam pequenos tufos de ervas,
dando-lhes a aparência de jardim vertical abandalhado.
No interior, fazia tanto frio no Inverno
que soltávamos vapor pela boca ao falarmos durante o jantar.
Nunca tirávamos os casacos dentro de casa,
e era um verdadeiro suplício nos dias de banho ter de trocar de roupa.
É um exagero chamar casa a duas divisões frigoríficas,
mais um género de casa de banho inventada.
Não se podia dar mais de quatro passos sem
embater na bancada da cozinha.
A casa de banho, medida num generoso passo e meio de criança,
continha um lavatório e, por cima deste,
um espelho hexagonal sem moldura, enferrujado nos cantos,
mais uma retrete branca com um tampo preto de plástico.
A divisão sanitária improvisada encontrava-se separada da cozinha
pela cortina translúcida de nylon branca, suspensa por argolas no varão,
ambos em plástico também. Eu gostava daquela casa.
Só tive noção de que não era adequada às nossas necessidades
por ver e ouvir o choro regular da mãe,
num queixume de insolúvel desgraça.
Cláudia Lucas Chéu
É o seu primeiro livro de poesia confessional. Trata-se de um livro autobiográfico com um único poema longo. Quando relê o que escreveu, a autora fica assombrada pela possibilidade de ter deixado o rabo à mostra nas páginas de Confissão.
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Na casa onde vivíamos,
as paredes grossas estavam cobertas por uma película de bolor
e das inúmeras fendas saíam pequenos tufos de ervas,
dando-lhes a aparência de jardim vertical abandalhado.
No interior, fazia tanto frio no Inverno
que soltávamos vapor pela boca ao falarmos durante o jantar.
Nunca tirávamos os casacos dentro de casa,
e era um verdadeiro suplício nos dias de banho ter de trocar de roupa.
É um exagero chamar casa a duas divisões frigoríficas,
mais um género de casa de banho inventada.
Não se podia dar mais de quatro passos sem
embater na bancada da cozinha.
A casa de banho, medida num generoso passo e meio de criança,
continha um lavatório e, por cima deste,
um espelho hexagonal sem moldura, enferrujado nos cantos,
mais uma retrete branca com um tampo preto de plástico.
A divisão sanitária improvisada encontrava-se separada da cozinha
pela cortina translúcida de nylon branca, suspensa por argolas no varão,
ambos em plástico também. Eu gostava daquela casa.
Só tive noção de que não era adequada às nossas necessidades
por ver e ouvir o choro regular da mãe,
num queixume de insolúvel desgraça.
Cláudia Lucas Chéu
É o seu primeiro livro de poesia confessional. Trata-se de um livro autobiográfico com um único poema longo. Quando relê o que escreveu, a autora fica assombrada pela possibilidade de ter deixado o rabo à mostra nas páginas de Confissão.
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Na casa onde vivíamos,
as paredes grossas estavam cobertas por uma película de bolor
e das inúmeras fendas saíam pequenos tufos de ervas,
dando-lhes a aparência de jardim vertical abandalhado.
No interior, fazia tanto frio no Inverno
que soltávamos vapor pela boca ao falarmos durante o jantar.
Nunca tirávamos os casacos dentro de casa,
e era um verdadeiro suplício nos dias de banho ter de trocar de roupa.
É um exagero chamar casa a duas divisões frigoríficas,
mais um género de casa de banho inventada.
Não se podia dar mais de quatro passos sem
embater na bancada da cozinha.
A casa de banho, medida num generoso passo e meio de criança,
continha um lavatório e, por cima deste,
um espelho hexagonal sem moldura, enferrujado nos cantos,
mais uma retrete branca com um tampo preto de plástico.
A divisão sanitária improvisada encontrava-se separada da cozinha
pela cortina translúcida de nylon branca, suspensa por argolas no varão,
ambos em plástico também. Eu gostava daquela casa.
Só tive noção de que não era adequada às nossas necessidades
por ver e ouvir o choro regular da mãe,
num queixume de insolúvel desgraça.